Poems by Ismar Tirelli Neto
Translated by Farnoosh Fathi
HE DOESN’T LIKE that poem of mine
that goes
like so lying sideways
your body speaks a half-moon
these verses he likes but nags me on the following
loaf of flesh discovered
between the blue jeans
and a black shirt
etc.
he said that these (lines)
that follow
don’t quite pay the body that was lying
like so on its side
that when a body finally
goes about saying half-moons
nothing more need be written
nothing else in the poem
bears equivalence to this
that is
my poem wouldn’t need
anything other than bodies
which like so on their sides
say half-moons
my poem is apparently
a cripple
he’s all overtures
but where it is necessary
that whatever must be said be said
he gets this look of fear on his face
and says nothing at all
why should I say then
that while he speaks
about my poem
his body (not on its side
but belly facing up)
says a wine stain
insisting on the old carpet
and my eyes do not let go
of the flesh-loaf discovered
between the red shirt
and the pair of dark pants
(not sure what fabric)?
that they’ll understand me is sheer chance
but it’s not a case
for rushing
after all
what is this about?
John Ashbery said
“the poem is sad because it wants to be yours, and cannot”
and this textbook called poetry for students
argues for a cynical reading
of this line because Ashbery probably
was only trying to be funny
when he wrote it
a self-respecting poet should always
resist sentimentality
I try to take this into account
(try)
by calling the poem “Levity”
which is to say
there is a reason the poem
reads under the marquee
of Levity
that it (the marquee) is this (one) not any other
(I’m trying to organize the world)
words have acquired weight
and density
in the last couple of years
I didn’t quite grasp this
I didn’t quite grasp that one detail
capable of turning an arrangement of flowers
in disarray
(my poem must have been sad)
but something changed
yes something has changed
& I want to tell the boy of a certain
“alchemy in immanence”
I won’t do it because (as stated elsewhere)
words have acquired weight
and density
in the last couple of years
& I’m already quite wary
of the fireworks
in an alleged “alchemy in immanence”
I have a great distrust of
this “alchemy in immanence”
that has just occurred to me
it’s the kind of thing
that would make me feel tremendously ill at ease
if I were to hear it from someone else’s mouth
on the other hand the word “thing”
for example
strikes me nowadays as
one of the most beautiful
I don’t understand why people don’t enunciate
it with more reverence
(I could talk to the boy about some “thing”)
that they’ll understand me is sheer chance
but it’s not a case
for rushing
one does not write to the mountain to the aqueduct to a celestial body
the body you are coming at
is precisely the anti-celestial
& it insists on the old carpet
like a wine stain
it is there so much
that it trumps all this
my eyes do not let go
of the loaf of flesh discovered between his red shirt
and black pair of pants
(not sure what fabric)
If I could I would graph
on that gap
milk strait
frozen just ahead
that bodies
lying down like so
(one facing the other)
traditionally say full moons
most of the things
that we don’t understand
are very very close
almost under the skin
[read in the original Portuguese]
for Gabriel Bogossian
I.
nothing against it
nothing radically in favor
in summation nothing radically
“you’re getting chubby you should do something
about it you’re far too young”
G. said,
precisely; like noticing for the first time
that the façade of a given building we pass by
each and every day
is all tiled up
and if the sun strikes it a certain way
it’s really rather pretty
like some bathrooms that flare up becoming really
really red at sundown
II.
(tableau: an old woman argues with a deaf boy over a bench)
I’ve taken to giving little yelps on the street
as
I’m walking it suddenly ebbs
AH
(german, operistic)
we are interesting
we make things that are interesting
we hope that one day
they’ll matter
what fun
now if you really rely on the non-historicity of the sign
then you are a fool of the first order
polysemy’s where it’s at
kneading bread with empty beer bottles
(great comic potential there!)
down with the tyranny of function
what is it good for how go about it?
things have much more being
when seen as sociological trifle
and I am very sick of me
what is it good for how go about it?
has anyone in this world
in this vast vast vast vast world
ever died of a brutal hangover?
I would like a name address and number
benefits dental plan christmas
bonus a party thrown for Eunice in HR
a smart son a rich husband
and time, still, to be aggressively frivolous
what is it good for how go about it?
how interesting!
(all this without straying
from my voice’s comfort zone)
[read in the original Portuguese]
ELE NÃO GOSTA daquele meu poema
que diz
deitado assim de lado
teu corpo diz uma meia-lua
desses versos ele gosta
mas implica com os seguintes
naco de carne descoberta
entre o jeans azul
e a camiseta preta
etc
ele diz que esses versos
que se seguem
não pagam o corpo que deitado
assim de lado
diz uma meia-lua
que quando um corpo finalmente
dana a dizer meias-luas
não carece escrever mais
nada mais no poema
tem equivalência com isso
seja
meu poema não precisa(ria)
de outra coisa que não corpos
que assim de lado
dizem meias-luas
meu poema ao que parece
tem um aleijo
ele é todo ouvertures
mas lá onde se exige
que qualquer coisa esteja dita
ele faz cara de susto
e não diz nada
pra que dizer
que enquanto ele
fala do meu poema
seu corpo (não de lado
mas de barriga pra cima)
diz uma mancha de vinho
que renite no tapete velho
e meus olhos não largam
do naco de carne descoberta
entre a camiseta vermelha
e a calça escura
(não sei que tecido)?
é ao acaso que me entendam
mas não é caso
de se precipitar
afinal
do que é que isso se trata?
John Ashbery disse
“o poema está triste porque quer ser seu, mas não pode”
& certo guia de poesia para estudantes
nos recomenda leitura cínica
do verso porque Ashbery provavelmente
só estava tentando fazer graça
quando escreveu isso
poeta que se preze deve sempre
fazer causa contra o sentimentalismo
disso tento dar conta
(tento)
ao nomear o poema “Leviandade”
seja
há uma razão pra que o poema
se leia sob essa marquise
da Leviandade
que seja (a marquise) uma e não outra qualquer
(estou tentando organizar o mundo)
as palavras pegaram vulto
e densidade
de uns anos pra cá
eu não dava por isso
eu não dava pelo mínimo detalhe
capaz de mudar um arranjo de flores
em desarranjo
(meu poema deve ter ficado triste)
mas alguma coisa mudou
sim alguma coisa mudou
& eu quero falar para o menino de uma certa
“alquimia na imanência”
só não o faço porque (como já disse)
as palavras pegaram vulto
e densidade
de uns anos pra cá
& eu já me acautelo
dos fogos de artifício
numa suposta “alquimia na imanência”
tenho grande desconfiança dessa
“alquimia na imanência”
que acaba de me ocorrer
é o tipo da coisa
que me faria um tremendo mal-estar
se a ouvisse da boca de alguém
já a palavra “coisa”
por exemplo
me parece no corrente
das mais bonitas
não entendo porque não a enunciam
pelaí com mais reverência
(posso falar ao menino de uma “coisa”)
é ao acaso que me entendam
mas não é caso
de se precipitar
não se escreve pra viaduto montanha ou corpo celeste
o corpo onde se quer chegar
é justamente o anti-celeste
& ele renite no tapete velho
feito mancha de vinho
tanto de estar lá
que deita abaixo tudo isso
meus olhos não largam
do naco de carne descoberta
entre a camiseta vermelha
e a calça escura
(não sei que tecido)
se eu pudesse grafava
naquela brecha
estreito de leite
congelado logo à frente
que os corpos
deitados assim de lado
(um de frente para o outro)
costumam dizer luas cheias
a maior parte das coisas
que não entendemosestá muito muito próxima
quase que na pele
Poema de tarde
a Gabriel Bogossian
I.
nada contra
nada radicalmente a favor
numa palavra nada radicalmente
“você está ficando barrigudo devia fazer algo
a respeito você é jovem demais”
G. dixit,
precisamente como reparar pela primeira vez
que a fachada de dado edifício pelo qual passamos
todo santo dia
é toda azulejada
e incidindo o sol de certa maneira
fica bem bonito
como certos banheiros que se inflamam ficam muito
muito vermelhos ao entardecer
II.
(tableau: uma senhora idosa disputa banco de praça
com um menino surdo)
dei pra soltar gritinhos na rua
assim
estou andando de repente reflui:
AH
(ataque germânico)
somos pessoas interessantes
fazemos coisas interessantes
esperamos que um dia relevem
que divertido
se você realmente se fia na não-historicidade do signo
então você é um imbecil de marca maior
a bossa agora é a polissemia
preparar a massa do pão com Long Necks
(grandes possibilidades cômicas!)
abaixo a tirania da função
pra que serve como faz?
as coisas têm muito mais existência
como pormenor sociológico
& eu vou muito farto de mim
pra que serve como faz?
terá alguém no mundo
nesse vasto vasto vasto vasto mundo
morrido tão bruta a ressaca?
eu quero nome endereço e telefone
comissão benefícios plano odontológico
décimo terceiro festa da Zulmira do rh
um filho esperto um marido rico
& ainda o tempo de ser
agressivamente frívolo
pra que serve como faz?
que interessante!
(tudo isso sem sair
da minha zona vocal confortável)
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Edited by Farnoosh Fathi